"Falar ou ser falado
O falante, suporte das formações discursivas, ao construir seu discurso, investe nas estruturas sintáticas abstratas temas e figuras, que materializam valores, carências, desejos, explicações, justificativas e racionalizações existentes em sua formação social. Esse enunciador não pode, pois, ser considerado uma individualidade livre das coerções sociais, não pode ser visto como agente do discurso. Por ser produto de relações sociais, assimila uma ou várias formações discursivas, que existem em sua formação social, e as reproduz em seu discurso. É nesse sentido que se diz que ele é suporte de discursos.
Se o enunciador é o suporte de um discurso que ele reproduz, quem é o agente discursivo? Na medida em que as formações discursivas materializam as formações ideológicas e estas estão relacionadas às classes sociais, os agentes discursivos são as classes e as frações de classe. Tornamos a lembrar que, embora haja diferentes formações discursivas numa formação social, a formação discursiva dominante é a da classe dominante.
O "árbitro" da discursivização não é o indivíduo, mas as classes sociais. O indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele pense e fale.
Poderiam objetar: essas concepções não são muito restritivas? Afinal, sendo o homem um "animal racional", organiza seu discurso como quer para exprimir o que quiser. Deve-se contestar essa liberdade absoluta do ser humano, pois, como já mostramos, sendo ele produto de relações sociais, age, reage, pensa e fala, na maior parte das vezes, como os membros de seu grupo social. Além disso, as ideias que tem à disposição para tematizar seu discurso são aquelas veiculadas na sociedade em que vive. É claro que, com isso, não se exclui a possibilidade de o homem elaborar um discurso crítico, diferente, portanto, dos discursos dominantes. No entanto, esse discurso crítico não surge do nada, do vazio, mas se constitui a partir dos conflitos e das contradições existentes na realidade.
A aprendizagem linguística, que é a aprendizagem de um discurso, cria uma consciência verbal, que une cada indivíduo aos membros de seu grupo social. Por isso, a aprendizagem linguística está estreitamente vinculada à produção de uma identidade ideológica, que é o papel que o indivíduo exerce no interior de uma formação social.
Na medida em que o homem é suporte de formações discursivas, não fala, mas é falado por um discurso."...
Se o enunciador é o suporte de um discurso que ele reproduz, quem é o agente discursivo? Na medida em que as formações discursivas materializam as formações ideológicas e estas estão relacionadas às classes sociais, os agentes discursivos são as classes e as frações de classe. Tornamos a lembrar que, embora haja diferentes formações discursivas numa formação social, a formação discursiva dominante é a da classe dominante.
O "árbitro" da discursivização não é o indivíduo, mas as classes sociais. O indivíduo não pensa e não fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele pense e fale.
Poderiam objetar: essas concepções não são muito restritivas? Afinal, sendo o homem um "animal racional", organiza seu discurso como quer para exprimir o que quiser. Deve-se contestar essa liberdade absoluta do ser humano, pois, como já mostramos, sendo ele produto de relações sociais, age, reage, pensa e fala, na maior parte das vezes, como os membros de seu grupo social. Além disso, as ideias que tem à disposição para tematizar seu discurso são aquelas veiculadas na sociedade em que vive. É claro que, com isso, não se exclui a possibilidade de o homem elaborar um discurso crítico, diferente, portanto, dos discursos dominantes. No entanto, esse discurso crítico não surge do nada, do vazio, mas se constitui a partir dos conflitos e das contradições existentes na realidade.
A aprendizagem linguística, que é a aprendizagem de um discurso, cria uma consciência verbal, que une cada indivíduo aos membros de seu grupo social. Por isso, a aprendizagem linguística está estreitamente vinculada à produção de uma identidade ideológica, que é o papel que o indivíduo exerce no interior de uma formação social.
Na medida em que o homem é suporte de formações discursivas, não fala, mas é falado por um discurso."...
Fiorin, José Luiz. Linguagem e ideologia. 8ª ed. (rev e atualizada). São Paulo: Ática, 2007. Páginas 43 e 44.
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